segunda-feira, 30 de maio de 2011

Sugestões Poéticas, Histórico-Literárias e de Estudos Literários

Caros, faço agora uma postagem que nunca foi feita em clarividência, mas os livros que mostrarei a seguir, em sua grande parte, já entravam como fonte de várias abordagens dos tópicos daqui. Não fugirei muito do que o Sacrário das Plangências trata (Romantismo, Simbolismo, Século XIX, Barroco e afins), mas recomendo a atenção devida às sugestões que aqui são dadas. Algumas sugestões são de poetas clássicos, mas feitas por edições novas que chegaram ao mercado, ou de edições que vieram à luz somente agora. Ao mesmo tempo que haverá um esquema de separação das temáticas, não seguirei nenhum esquema bibliográfico-acadêmico, para facilitar a vida dos leitores e do blogueiro que lhes escreve.

OBRAS POÉTICAS:

CASIMIRO DE ABREU - Obra Completa; G. Ermakoff Editorial, Rio de Janeiro, 2010. Edição organizada e comentada por Mário Alves de Oliveira. 616 páginas.

A edição das obras completas do poeta fluminense organizada por Mário A. de Oliveira é absolutamente esplêndida. Além de reunir "As Primaveras", reúne 47 poemas não publicados em livros (alguns eram publicados em jornais da época), além da prosa Casimiriana e da peça Camões e o Jau, encenada quando Casimiro ainda se encontrava em Portugal. Porém, o que mais chama a nossa atenção é o conteúdo que Oliveira nos mostra em seus comentários, sempre baseados em cartas, jornais. Contando também com um álbum de família precioso e de datas importantes, essa edição pode se julgar honrosa para a eternidade do nome de Casimiro nas letras em português.


PANORAMA DO MOVIMENTO SIMBOLISTA BRASILEIRO - Andrade Muricy. Editora Perspectiva, São Paulo, 1987. 3ªEdição. 1356 páginas

A sugestão desse livro na seção de Obras Poéticas tem o seu motivo. Mesmo sendo classificado por muitos como um "estudo literário", é, acima de tudo, um livro de poesia simbolista contando, sim, com um longo estudo literário no início do volume um. Andrade Muricy, amigo de vários simbolistas colocados no livro (tanto que muitos poemas eram dedicados a ele), tinha como função, sendo um pós-simbolista e grande amigo de Nestor Victor, cuja amizade de Cruz e Sousa foi imensa, de nos colocar a par dos acontecimentos de todo movimento no nosso país e também do movimento simbolista de outras plagas. Ao todo, 131 poetas e/ou romancistas são colocados a lume por Muricy.



JOHN KEATS - Ode Sobre a Melancolia e outros Poemas. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. Editora Hedra. São Paulo, 2010. 154 páginas.

Esse livro cá mostrado, cuja tradução de Péricles Eugênio é de uma fidelidade muito grande (assim como nas traduções das obras de Shelley e Byron, também lançadas pela editora Hedra), está sendo colocado nessa seleção por alguns motivos. Além da evidente qualidade de Keats, que o coloca na tríade Romântica Inglesa junto Lord Byron e Percy Shelley, um tateamento da obra traduzida pode instigar o leitor a procurar a obra completa, que encontra-se no Brasil somente em inglês. Há pouco, havia edições dela somente em sebos ou por demoradas encomendas; agora, porém, em grandes livrarias há edições de preços variados e que podem ser facilmente encomendadas, caso não se encontre no ato da compra. A obra desse inolvidável poeta é recomendada, independentemente da edição. E para se ter uma noção da importância dessa vinda dos 'Complete Poems of John Keats', o caso dos poemas de Byron, um poeta de maior apelação dentro do movimento, é mais complicado ainda - pois são raríssimos os casos de localização de suas obras completas.

CRUZ E SOUSA - Antologia Poética; Série Bom Livro. Organização Ivone Daré Rabello. Editora Ática, 2009. São Paulo. 224 páginas

Essa antologia da poética Cruziana feita pela especialista na temática, que já muito foi tratada aqui, apresenta-nos o período histórico, científico e literário na introdução. Além do mais, não divide a antologia por poemas escolhidos de cada livro e colocados lado a lado, mas espalhados dentro das três temáticas traçadas por ela (Refúgio e Tormento do Ideal; Desejo e Aniquilação; Mundos sem Redenção). Sabendo-se que é um livro destinado a um ensino mais didático, em cada poema há um glossário das palavras que podem causar dúvidas, mas que raramente será utilizado depois de cem páginas de leitura, porque o leitor se acostuma ao vocabulário e suas variações. E para quem gostar dos poemas de Cruz e Sousa - os livros Broquéis, Faróis e Últimos Sonetos, que são as obras de verso da poética Cruziana, são de relativa facilidade de acesso.

GOETHE - Poesias Escolhidas. Organização de Samuel Pfromm Netto. Editora Átomo. Edições PNA. 2ºEdição. Campinas, SP. 2005. 182 páginas.

Como Pfromm deixa claro na introdução, no Brasil quase não havia traduções publicadas do poeta Romântico alemão, que é possivelmente o mais influente do estilo nos dias de hoje. E com exceção aos clássicos Os Sofrimentos do Jovem Werther e Fausto, espalhadas traduções víamos de Goethe pelo país. E vendo esse oco nas edições em Português, trataram de reunir as mais fiéis traduções dos poemas, além de informações sobre a vida e obra. Como o alemão não é uma língua parecida com a portuguesa, a tradução é complicada e, muitas vezes, as rimas são sacrificadas pelo bem do conteúdo, mesmo que em Distante Amor rima e métrica sejam mantidas, por exemplo. Na introdução o organizador da obra faz uma comparação entre uma tradução de "livre-interpretação" e outra mais ao "pé-da-letra", mesmo que toda tradução de um poema Romântico alemão para o português que pretende ser fiel seja uma interpretação passada em outra língua. Coube aos tradutores serem o mais fiel à alma inatingível de Goethe. Livro recomendado não só aos amantes do Romantismo, mas àqueles que cultuam a boa cultura.

ALPHONSUS DE GUIMARAENS - Melhores Poemas; Organizado por Alphonsus de Guimaraens Filho. Global Editora. 4ª Edição, 2ª reimpressão; São Paulo, 2008. 176 páginas.

Aqui fazendo também a minha dedicação à memória dos Simbolistas, o poeta mineiro modernista, Alphonsus de Guimaraens Filho, reuniu os melhores poemas, se podemos falar assim, de seu pai e os colocou em edições muito felizes. Em tudo fulgura Alphonsus: da capa que nos lembra Ismália ao espaço único para cada poema - e sendo que algumas estrofes ficam solitárias numa página quase toda branca, como os ermos que via o Alphonsus pai nas cidades de Mariana, Ouro Preto e outras históricas que residiu em Minas Gerais. Um livro de crença no Simbolismo, na Fé - pois contém muitos poemas dedicados à Virgem Maria - no Amor e na Morte, inclusive na conjunção de todos depois de cerrados os olhos. Termina a seleção poética, exatamente, com os "Últimos Versos", que foram escritos dias antes da morte do autor. Contém biografia e análise escritas pelo filho.

ARTHUR RIMBAUD - Poesia Completa. Edição Bilingüe Comemorativa do Sesquicentenário. Trad. por Ivo Barroso. Topbooks, Rio de Janeiro, Reimpressão de 2009. 392 páginas.

Aqui faço ponto: sugerir aqui Rimbaud não é sugerir a vocês, necessariamente, um simbolista, mas também não é o contrário, como um pré-modernista. E é esta a graça do poeta francês que tão jovem morreu para a literatura. A maioria dos Simbolistas ficavam alheios às questões políticas... Rimbaud não (a Comuna Francesa é tratada com furor por ele), mas, tal qual os Simbolistas, ataca os Parnasianos e, com uma ironia terrível, os Românticos também em O que Dizem ao Poeta a Propósito das Flores, em tradução de Ivo Barroso (o livro é muito bem traduzido e há comentários fecundos sobre os poemas no final da obra). A leitura de Rimbaud leva-nos a um mundo jovial de complexidade etérea, ébria e conflituosa, como era a vida dos meios poéticos parisienses por volta de 1875.

Livros como a Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo ou Obras Completas de Castro Alves são de leitura obrigatória. Tolice minha, na verdade, seria sugerir alguma editora sendo que há várias boas com o conteúdo básico da poesia. Ambas as obras necessitam de uma leitura atenta para o leitor construir, em sua mente, a divisória das águas entre a falaz divisão-mórbida do terceiro movimento Romântico e do Segundo que muitos bradam e, então, reger a música das percepções das diferenças entre os dois estilos.

HISTÓRICO-LITERÁRIAS:

UBIRATAN MACHADO - A Vida Literária no Brasil Durante o Romantismo - Editora Tinta Negra. Rio de Janeiro. 2009. 392 páginas.

Aqui está um livro interessante desse estilo que é raro. Escrito por um jornalista, preza por uma linguagem não acadêmica para tratar de temáticas normalmente limitadas a esse meio. Em todas as livrarias está cadastrado como "Teoria Literária", mas trata, acima de tudo, do período histórico em que o Romantismo e seus textos surgiam. Tudo é colocado com contexto e não há, como num clássico livro de teoria literária, um poema base e longas divagações sobre tal. Há fatos, trechos de poemas, caricaturas da época e análises de possíveis ligações desses meios. Um livro muito leve e de rápida leitura. Comete alguns pecados, mas é muito interessante para os que querem Literatura e História e não pretendem comprar um livro especifico sobre o século XIX no Brasil para entender sobre o que se passava rigidamente na época em que Fagundes Varela escreveu seu "Estandarte Auriverde".

BERNARDO RICUPERO - O Romantismo e a Idéia de Nação no Brasil (1830-1870). Editora Martins Fontes. São Paulo, 2004. 330 páginas.

O cientista político Bernardo Ricupero faz aqui uma análise da época do Romantismo que é bem diferente da de Ubiratan Machado, principalmente pelo sentido que os dois conduzem o tema, mesmo que, muitas vezes, os personagens sejam os mesmos. Começando a análise oito anos depois da proclamação da independência de nossa nação, quando a ideia de nação ainda estava sendo construída no consciente popular, Ricupero se baseia em escritores Românticos que tiveram ligação assinada com a política, como José de Alencar, que chegou a ser senador, mas não tratando de autores errantes em tais questões, como Fagundes Varela, como fez Ubiratan Machado. A comparação entre os movimentos Românticos Argentino e Brasileiro no final do livro nos concede uma noção, mesmo que leve, da importância dessa corrente literária para a construção da identidade latino-americana, mesmo que a influência dela tivesse alicerces na Europa.

RICHARD MORSE - Formação Histórica de São Paulo - Difusão Européia do Livro, São Paulo, 1970. 421 páginas.

Desse clássico da historiografia não consegui nenhuma foto de sua capa, o que já deixa clara a dificuldade que será encontrar esse livro (a minha edição é a última que saiu, em 1970, o que claramente é uma injustiça com esse brasilianista magnífico). Sendo um livro de história que evidencia que falará sobre a formação da cidade que conhecemos como São Paulo, Morse foi de uma esperteza que raramente vimos nos historiadores atuais. Utilizou, pois, como base de vários pontos de sua análise os poetas, escritores e movimentos literários de várias épocas. Ora, nada seria a cidade de São Paulo sem a Academia de Direito do Largo de São Francisco, por exemplo, que atraiu estudantes de vários lugares do país, entre os quais Castro Alves (nascido na Bahia), Fagundes Varela (nascido em Niterói, mas na época residente em Goiás).
Impossível seria analisar a transfiguração de uma cidade que vivia um clima ainda de colônia para uma cidade de furor estudantil e intelectual sem analisar os pontos essenciais do Romantismo. Para tal, teve um capítulo especial para descrições da cidade por meio de cartas de grandes Românticos, além de uma análise curiosa de uma parte da peça Macário, de Álvares de Azevedo. E para além do Século XIX, passa pelo movimento Modernista com a justiça que lhe é devida históricamente; e por tratar de literatura com o respeito merecido, coloco na parte Histórico-Literária. Um livro alheio a grande parte dos historiadores contemporâneos.

ANÁLISES LITERÁRIAS

ROBERTO DE OLIVEIRA BRANDÃO - Poética e Poesia no Brasil (Colônia). Editora Unesp, Imprensa Oficial. São Paulo. 2001. 320 páginas.

Eis um livro que vale a pena ler, independentemente do teor acadêmico que carrega consigo, principalmente quando somos bombardeados com besteiras como as que Gregório de Matos foi uma farça, uma grife e um dedo-duro da inquisição (e as pessoas acreditam e dizem 'amém'). Analisando toda a poética vinda do Brasil colônia, ou seja, antes da vinda da Família Real, passa desde Bento Teixeira, indo de Gregório de Matos até os poetas da inconfidência. E sobre Gregório, não nega que era um copiador de alguns temas de seus mestres, fazendo leves modificações nos copiados sonetos e oitavas; mas, como disse, o próprio Gregório se dizia um "copiador", o que hoje dir-se-ia um "plagiador". Sabendo que, somente durante o estilo Barroco começou a se assinar as obras, não negou Oliveira Brandão o fato de haver cópias de Gregório - mas a autenticidade desse poeta está evidente nesse livro e exposta com provas. Em si, um grande livro para os que querem conhecer os princípios da poesia Brasileira, quando esta terra ainda era ligada por alma, sangue e documentos em Portugal.

IVONE DARÉ RABELLO - Um Canto à Margem - Uma Leitura da Poética de Cruz e Sousa. EDUSP, Nankin Editorial. São Paulo, 2006. 296 páginas.

Esse estudo de Rabello, que é muito utilizado aqui em análises de Cruz e Sousa, é de extrema serventia para aqueles que procuram um livro de Análise Literária do maior poeta de nosso Simbolismo. Além de pontuar alguns poemas, de várias fases de sua carreira (inclusive de antes de Broquéis, seu primeiro livro em versos ou Missal, seu primeiro em prosa), com eles lembra a biografia de Cruz e Sousa e de qual modo a vida do poeta influenciou na obra (algo que muitos esquecem, pois têm a crença de que a obra não tem relação com a vida do autor). Além do mais, sendo uma análise - e uma tese de Doutorado - sobre um autor Simbolista, tudo que é colocado é uma cogitação. A conclusão, ou seja, é uma "Tentativa de Conclusão", pois a base do livro todo são possibilidades em cima de uma obra que dá várias interpretações e divagações. Um estudo para quem é fã de Cruz e Sousa, do Simbolismo e da época em que escrevia o autor, principalmente pelas trágicas e "curiosas" reações relatadas por consequência do lançamento de seus livros, com altos teores de preconceito étnico (estávamos, então, cinco anos depois da abolição da escravatura).


Caros leitores de Sacrário das Plangências, creio que minhas sugestões, por hora, tateam o contexto do blog, independentemente de terem um comentário mais aprofundado ou não. Por enquanto, fico por aqui, mas no futuro mais dessas postagens farei.

Abraços, Cardoso Tardelli

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