quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Sugestões de Leitura - Parte IX

Caros leitores do Sacrário das Plangências, dando continuidade às tradicionais postagens deste blog, faço a nona parte das sugestões de leitura, que, desta vez, trará também um livro de ciências sociais e antropologia, mas que engloba muito do contexto histórico do clima do fim do Século XIX, no qual o Decadentismo e o Simbolismo surgiram.

SUGESTÕES:
JOÃO DA CRUZ E SOUSA Últimos Sonetos. Coleção Repertório. Editora UFSC, 1ª Edição: Florianópolis, 2011

É um grande alento que se tenha lançado uma nova, e boa, edição de um dos clássicos da poesia brasileira. "Últimos Sonetos", um dos livros lançados do simbolista Cruz e Sousa postumamente lançados por Nestor Vítor, é talvez um dos grandes tesouros do engenho poético que o estilo simbolista produziu na poesia mundial (assim como o "Faróis" e o "Evocações", absolutamente os seus melhores livros). Contendo poemas que, para alguns críticos, poderiam ser "dos mais belos de todo o idioma", apresenta a sofridão e a esperança de um poeta negro renegado por uma sociedade que, apesar de liberta da escravidão, continha na mentalidade a mais vil escravatura. E não somente isso: a opção por um simbolismo de transcendência causou a Cruz e Sousa uma incompreensão, visto que à sua época o determinismo, o cientificismo e o niilismo eram leis absolutas, sem variáveis ou argumentos contrários. Os 96 sonetos apresentam uma musicalidade que marcou época, e uma visão de mundo única, e sobre a qual os contemporâneos movimentos negros não se debruçaram de maneira satisfatória ainda.

LILIA MORITZ SCHWARCZ - O Espetáculo das Raças - Cientistas, Instituições e Questão Racial no Brasil (1870-1930). Companhia das Letras. 1ª Edição, 9ª Reimpressão: São Paulo, 2010. 288 páginas. 
  
Recomendar um livro de Cruz e Sousa ao mesmo tempo que o "Espetáculo das Raças" não é por acaso. Nesta fabulosa obra, vemos o que o cientificismo e o determinismo podem (e não devem) constituir como lei natural, Schwarcz mostra-nos um período de eferverscência intelectual na Europa e no Brasil, seja por meio da criação dos vários Museus, seja por meio das várias teses deterministas, evolucionistas (eis que surge, pois, Darwin)... o que se percebe é que, apesar das Letras ainda estarem em plena atuação, as ciências biológicas e a antropologia (que, na época, se referia à frenologia - ou seja, à medição do crânio e, por conseguinte, das virtudes e defeitos das pessoas, derivando  personagens célebres, como o criminologista italiano Lombroso - e aos estudos do ambiente e impendimentos que ele traz a um povo - além de, claro, às teses racistas) eram maioria até mesmo nas Faculdades de Direito. Os grandes pensadores da época eram os "homens de sciencia", e os primitivos, inferiores, de maneira irrevogável, vejam só, eram os não adaptados aos modos da civilização europeia. Àquela época se discutia desde o risco da miscigenação (com argumentos dos mais absurdos, como, por exemplo, o de que uma mula é estéril, portanto, os mulatos também seriam, causando risco à humanidade). E, acerca de Cruz e Sousa, o que convém dizer? Para os pensadores da época, negros estavam, por inferioridade intelectual, destinados ao trabalho rude, braçal. E eis que a figura do intelectualíssimo Cruz e Sousa fulge como um dardo no âmago dessa sociedade de mesquinharia científica.

GEORGE GORDON BYRON - As Trevas e Outros Poemas. Clássicos Saraiva. Vários Tradutores. Editora Saraiva. 1ª Edição, 2007. 112 páginas.

Lorde Byron, como sabido, é um dos mais influentes autores de todos os tempos. Talvez não o melhor Romântico, tendo em vista que o seu movimento continha Goethe, Keats, Victor Hugo, entre outros, mas, com certeza, foi o autor que instituiu uma era - a era byroniana, da qual derivou-se, por exemplo, grande parte dos autores do brasiliano Romantismo. À sombra de seus clássicos "Versos Escritos sobre uma Taça de Crânio Humano" surgem vários grandiosos poemas, entre os quais "As Trevas", poema de versos livres que muito fez fama no Brasil. A edição da "Clássicos Saraiva" traz uma comparação entre algumas das várias traduções disponíveis de Byron para o Português, trabalhando na linguagem eternizada pelo autor. Sendo uma edição mais focada ao perfil didático,  não só é de absoluta serventia àqueles que pretendem trabalhar o Romantismo Inglês nas escolas - mas também àqueles que têm como curiosidade encontrar algumas outras traduções do Don Juan britânico.



Boa Leitura!

Abraços,
Cardoso Tardelli

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